sexta-feira, 15 de julho de 2011

Atuação do governo poderia minimizar atrito com a Rússia

15/07/11 - 00:00 > COMÉRCIO EXTERIOR

 Karina Nappi

 
São Paulo - As relações entre o Brasil e a Rússia tendem a voltar ao normal, com possibilidades grandes de expandirem, principalmente no setor alimentício. A afirmação é dos analistas de comércio exterior consultados pelo DCI.

De acordo com Celso Grisi, sócio-diretor da Fractal as relações bilaterais entre os integrantes do Brics (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) é de extrema importância para os dois países e não pode sofrer crises.

"As relações com a Rússia tendem a se normalizar e têm que se normalizar, a Rússia depende muito de um conjunto de produtos brasileiros, assim como o Brasil é dependente deles também, nossas importações são substanciais. Por exemplo, o Brasil necessita das importações de adubos e fertilizantes russos, assim como somos grandes exportadores de carnes e miudezas para os russos. Não podemos ter brigas e nem agir com moeda de troca na questão de impasse comercial. Assim, não podemos falar em clima de antagonismo com os russos. Perderíamos mercado e parceiros. Eles dependem de nós e nós dependemos dele", pondera Grisi.

Eduardo Balian, professor da ESPM corrobora com a alegação e alega que setores como tecnológico, alimentos e têxtil têm um mercado promissor na Rússia, contudo ele frisa que as relações entre Brasil e Rússia não sofreram uma crise, e sim as relações entre os empresários entrou em atrito.

"Não é uma relação de governos é uma relação entre frigoríficos e compradores. É claro que envolve os países, mas a questão é empresarial. É um problema sanitário e não de política comercial, a base é sanitária. Vira e mexe os russos descredenciam frigoríficos brasileiros, pois as nossas empresas não estão, na maioria das vezes, seguindo as regras sanitárias, mas têm momentos que essas regras são realmente absurdas. Nesse caso é necessária uma análise técnica. Mas precisamos manter a atenção nesse caso para não perdermos um parceiro com grande potencial", relatou.

Grisi complementa ao dizer "temos que ter mais cuidado com os problemas sanitários na criação de bovinos, isso é desleixo dos produtores. Vimos isso com os embargos anteriores (em 2010 tivemos embargos dos Estados Unidos e da União Europeia). O setor de frigoríficos não está sendo profissional, hoje é possível ter um controle sanitário eficaz. Vamos retomar, a indústria nacional precisa ter mais controle sobre o gado e sobre as condições sanitárias de produção para não perder diversos mercados, pois a fama de mau produtor se espalha."

Queda nas vendas

As informações do presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Camardelli apontam para a estabilidade nas exportações de carne dos 85 frigoríficos de carne bovina, suína e de frango, situados em Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, que tiveram embargos russos. "Não afetou nem deverá causar impacto às exportações brasileiras do produto."

Segundo a Abiec, no primeiro semestre de 2011 foram exportadas 146.563 toneladas, o que rendeu um faturamento de US$ 658,5 milhões. Na análise comparativa com o mesmo período de 2010, houve alta de 38%.

"Embora nesse ano tenhamos exportado mais e o discurso das entidades do setor tem sido negativo, eles dizem que o embargo não afetou as exportações, mas é claro que afetou. Como o preço da commodity subiu muito, os valores escondem a realidade de que o setor foi afetado. E mais do que isso afeta o prestígio da carne brasileira, pois o mundo inteiro fica sabendo disso", argumenta Grisi.

"Afetaram sim, pois é um parceiro significativo para o setor, mas conseguiremos recuperar o prejuízo até o final do ano", completa Balian.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) apontam que houve uma leve queda (13,18%) nas exportações para a Rússia entre abril e junho.

No quarto mês de 2011 os brasileiros venderam US$ 614,6 milhões aos russos, enquanto em junho o valor foi de US$ 533,6 milhões. Ao mesmo tempo, as importações registraram queda de 33,59% na mesma análise temporal, ao passar de US$ 222,4 em abril para US$ 147,7 em junho.

 

 

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