A indústria de calçados quer ajudar mais a Receita Federal a combater a importação de mercadorias ilegais no País. Uma das iniciativas da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) com esse objetivo é a criação de um programa de treinamento de agentes aduaneiros para identificação de calçados e sua classificação fiscal.
Apesar das ameaças externas, a indústria nacional de calçados continuará como uma das principais do mundo, acredita Milton Cardoso, diretor presidente da Vulcabras Azaleia e presidente da Abicalçados.
Veja a entrevista de Cardoso ao site da Amcham, concedida após ele participar do comitê de Comércio Exterior da Amcham-São Paulo na sexta-feira (21/10):
Amcham: A Receita Federal sinalizou que abrirá o diálogo com a iniciativa privada para melhorar as práticas aduaneiras. Como o setor de calçados pode contribuir?
Milton Cardoso: Na Abicalçados, temos uma experiência positiva de conversa estruturada com o governo para explicar onde estão os principais pontos de fraude. Nesse aspecto, fomos bem recebidos. Estamos trabalhando na elaboração de um programa conjunto de treinamento de fiscais para aumentar a capacidade do fiscal de interpretar o produto e sua classificação. Ainda não posso avaliar o resultado efetivo da colaboração, mas posso dizer que temos trabalhado juntos em programas. Nos próximos meses, perceberemos se isso se transformou em realidade.
Amcham: Como o sr. avalia o combate às fraudes no setor?
Milton Cardoso: Diferente de outros órgãos de governo, a Receita Federal não pode dar retorno sobre denúncias ou indícios de irregularidade que o setor faz devido ao sigilo fiscal. É diferente, por exemplo, de pedir uma redução de alíquota de imposto ou novo procedimento. Nesses casos, é possível averiguar imediatamente quando seu pedido é atendido. Em relação às denúncias que encaminhamos à Receita, leva-se um tempo maior para perceber uma ação eventual.
Amcham: A concorrência chinesa está ameaçando o setor de calçados?
Milton Cardoso: A indústria de sapatos brasileira é a terceira maior do mundo. Nos anos 1970, diziam que os japoneses acabariam com nossa indústria, e ela continua firme. Na década de 1980, era a vez de a Coreia acabar conosco. Depois vieram os taiwaneses e agora é a vez dos chineses. Mas o problema com a China é que ela é muito grande. Ela está impondo ao resto do mundo suas condições porque existe um bilhão e trezentos milhões de pessoas vivendo em outro patamar e com uma economia que participa sem barreiras no resto do mundo.
Amcham: Qual o futuro da indústria brasileira de calçados?
Milton Cardoso: Temos tecnologia, somos um país grande e em longo prazo ainda seremos uma indústria importante no mundo.
Amcham: O que torna a indústria brasileira de calçados tão competitiva?
Milton Cardoso: O Brasil é o único país que tem uma cadeia absolutamente completa do calçado. Produzimos todas as matérias-primas, as máquinas e os técnicos. Também temos marcas e um mercado forte.