Data do Artigo: 27/4/2012
[SAMIR KEEDI] Autor(a): SAMIR KEEDI
Economista com especialização na área de transportes internacionais.
Temos pensado muito no futuro da logística e transportes no Brasil. E imaginando como será daqui a 22 anos. Estamos pensando em 22, pois esse é o período que já se passou desde que a nossa economia sofreu uma abertura econômica histórica.
Analisando hoje, com os olhos de ontem, que foi o que fizemos em 1990 para olhar para o futuro, pensamos que em cerca de uma ou duas décadas teríamos um sistema logístico, de fato, excelente. Hoje, olhando para o passado, o que conseguimos ver? O avanço que imaginamos?
Infelizmente, não foi o que ocorreu. E, hoje, renovando nossas esperanças - um pouco sem esperança -, voltamos a imaginar o que poderemos ter em 2034. Partindo do que temos agora, do que conseguimos, os leitores entenderão nossas reduzidas esperanças. Só conseguimos imaginar que, lá na frente, ao pensarmos em 44 anos, poderemos ter de renovar por outros tantos anos.
Antes de sermos tachados de pessimistas, o que jamais fomos, vamos ver o que temos. Nem todos conseguem compreender que realismo nada tem a ver com pessimismo. Nem tampouco com otimismo. Realismo é um conceito único, se relaciona com fatos.
Todos sabemos que o Brasil é um país rodoviarista. Que sua matriz de transportes, a pior que poderíamos ter, é baseada no transporte rodoviário, com 60%. Somos um país rodoviarista e, no entanto, temos apenas 1,5 milhão de quilômetros de rodovias, sendo apenas cerca de 170.000 asfaltadas. Os EUA, segundo estatísticas, têm mais de 6 milhões de quilômetros, com pelo menos uns 70% asfaltados.
Nossa ferrovia pode ser considerada a pior do mundo. Em que evoluiu para 28.000 quilômetros, entre 1854 e 1920, subindo a 36.000, em 1948, para 32.000, em 1964, e está em pouco mais de 28.000, atualmente. Em que, em termos relativos, temos 3,4 quilômetros lineares de ferrovia para cada 1.000 quilômetros quadrados de território. A Argentina tem 12, a Inglaterra, 60, a França, 70,e a Alemanha, 130. Em termos absolutos, a Alemanha tem 45.000 quilômetros de ferrovias. O Japão, 23.000. Os EUA têm uma ferrovia total de 300.000 quilômetros, ou 32 para cada mil quilômetros quadrados de território.
O País tem uma quantidade enorme de rios, talvez maior do mundo, com cerca de 42.000 quilômetros. Mas apenas 13.000 são hidrovias, com uso de 8.000, e meros 2% da carga circulante no País. Nossa costa marítima é de 7.500 quilômetros, e mal aproveitados e investidos. O tempo médio de permanência de um container no porto, segundo a Santos Brasil, é de 17 dias. A média mundial é de cinco dias.
O Fórum Econômico Mundial, na análise da qualidade da infraestrutura, nos coloca, segundo seus estudos relativos a 2011, nas seguintes posições.
Na média geral, estamos na 104ª posição. Individualmente, temos a 91ª posição em ferrovia, a 110ª, em rodovia, a 122ª, em aerovia, e a 130ª, em portos. E isso, pasme-se, na análise entre 142 países.
Considerando que somos a 6a economia do mundo em termos absolutos - embora esse tipo de análise seja falso -, podemos nos dar conta da vergonha que isso representa. Se considerarmos nossa real posição econômica no mundo, pela análise da renda per capita, muito mais realista, já que considera a produção total (PIB - Produto Interno Bruto) em relação aos habitantes que produziram sua riqueza, também nos colocamos muito abaixo do que deveríamos. Já que nela estamos pouco acima da 50ª posição.
O investimento na infraestrutura brasileira explica tudo. Dizem que pertencemos ao Bric - sempre contestamos e dissemos que isso não existe, existindo apenas RIC. Nesse quesito também estamos fora da realidade deles. A Índia investe, por ano, 4% do seu PIB. A Rússia e a China investem 5% cada. O Brasil investe meros 0,49% do seu PIB. Qualquer empresário, economista, cidadão de bom-senso e com alguns parcos conhecimentos econômicos sabe que isso é uma tragédia.
Assim, não há como ter um sistema logístico, produtividade e competitividade adequados. De modo a concorrer em condições de igualdade com o mundo. Sem contar as nossas recordes cargas tributárias, taxas de juros e muitos outros problemas. Resultando em baixíssimos investimentos de cerca de 18% em toda a economia. Pouco mais de 1/3 da taxa da China.
E, pior que isso, nos damos ao luxo de criticarmos a China pelos nossos problemas. Que seriam muito mais graves sem ela.
É representativo e importante destacar, para reflexão, que no ranking internacional de educação, em leitura, matemática e ciências, de 2011, nos colocamos, respectivamente, nas 53ª, 57ª e 53ª posições. A Rússia em 43ª, 38ª e 39ª. A China, considerando Shangai e Hong Kong, na 1ª e 3ª em todos os quesitos.
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