terça-feira, 6 de setembro de 2011

Mercado pede dólar a R$ 1,89 para fortalecer manufaturados

DCI
06/09/11 - 00:00 > COMÉRCIO EXTERIOR

 

Gustavo Machado

 
São Paulo - O mês de setembro começou pessimista quanto ao comércio exterior brasileiro no curto prazo. Ao menos é o que indicam economistas que temem a influência do cenário global nos níveis de exportação do Brasil. O fluxo cambial do País sofreu algumas baixas na segunda quinzena de agosto - resultando em um déficit de US$ 600 milhões nos primeiros 20 dias úteis do mês -, o que pode se intensificar em setembro com uma possível saída do capital estrangeiro do mercado de renda fixa. Nem mesmo uma valorização do dólar frente ao real, referente a essa fuga, pode contribuir para o crescimento das exportações. Porém, com uma cotação a R$ 1,89, os manufaturados podem ganhar força.

Ontem, o Banco Central (BC) divulgou o relatório Focus com as expectativas do mercado para os finais dos anos de 2011 e 2012. De acordo com o documento, a estimativa para a Taxa Básica de Juros (Selic) está em 11% para o término deste ano e 10,5% para o de 2012, na mediana de curto prazo. Há uma semana, os indicadores registravam 12,25% e 11%, respectivamente. A expectativa do dólar para 2011 também foi revisada para baixo, caindo a cotação de R$ 1,58, e mantendo-se a R$ 1,60 para 2012. Em relação a balança comercial, as projeções apontam superávit de US$ 23 bilhões para este ano e de US$ 11,6 bilhões para o seguinte.

Segundo o economista André Mallet, da Um Investimentos, por mais que a diminuição da taxa Selic possa causar um ajuste positivo na cotação do dólar, existem práticas no mercado para deixá-lo atrativo. "O cupom cambial, pago pelos bancos, compensa a diferença entre os ganhos na renda fixa com o dólar", explica Mallet. Para o economista, existem muitos fatores que influenciam a variação cambial além da taxa Selic. "Exportações, remessas de lucro, investimentos, ofertas de ações. Muitas situações contribuem para a variação da moeda", diz Mallet.

Ao final das negociações de onte4m, o dólar comercial fechou com alta de 0,85%, cotado à R$ 1,651. A moeda norte-americana registrou a quarta alta seguida e atingiu sua maior cotação desde março deste ano.

Há alguns anos, a equipe econômica formada por Banco Central e Ministério da Fazenda contra uma supervalorização do real frente ao dólar, atuando diariamente no mercado. Atualmente, o BC possui US$ 350 bilhões em reservas internacionais. Esta batalha, nomeada pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega, como "Guerra Cambial", tem por objetivo dar competitividade aos produtos brasileiros.

De acordo com o dr. Otto Nogame, professor de Ambiente Global do Insper, o câmbio tende a se elevar devido à saída de capital especulativo do País, porém, os temores naquelas nações contribuem para diminuir a demanda por produtos importados. "O setor exportador está em espera. Não podemos esquecer que não temos uma pauta exportadora diversificada", alerta Nogame.

Para compensar a pouca procura pelos produtos brasileiros devido ao cenário externo turbulento, João Medeiros, diretor da Corretora Pioneer, explica que o real teria que passar por um processo de desvalorização que alçasse o dólar ao patamar de R$ 1,89. "Este é um consenso que existe no mercado. Esperam que neste nível, os manufaturados tenham um melhor desempenho", afirma Medeiros.

Atualmente, os principais produtos importados pelo Brasil são manufaturados de alta tecnologia, os quais não possuem substitutos fabricados no País. Em um cenário de desaquecimento global, os receios de estagnação, ou recessão, de outros países, influenciam não somente a quantidade exportada, mas também os preços dos produtos vendidos. Com uma pauta baseada em minério de ferro e commodities agrícolas, a balança comercial tenderia a pender para o lado importador em um momento de recessão global.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, acredita que este panorama ainda não se aplica à economia global. "Para nós, é complicado esperar que o mundo esteja péssimo. Caso esteja, a situação ficaria muito ruim pela queda [nas cotações] das commodities", argumenta de Castro.

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