Estudo mostra que porcentual de exportadoras que estimam elevar capacidade da produção caiu de 47% para 23% entre 2008 e 2011
O patamar também ficou bem abaixo do Nuci de junho do grupo de empresas voltadas ao mercado interno (84,8%). Estas também reduziram ímpeto de investir em capacidade, mas em menor magnitude: de 61% para 55%, de 2008 para 2011. O levantamento também apurou que 13% das exportadoras pesquisadas não têm programa de investimento; porcentual idêntico ao registrado durante a crise.
O recorte feito pela FGV abrange 60 grandes exportadoras e 126 companhias mais voltadas para o mercado doméstico. Responsável pela pesquisa, o economista da FGV Aloísio Campelo comentou que a recuperação no pós-crise foi mais concentrada nas empresas que atendem à demanda interna. Para ele, a perda de interesse em investir em aumento de capacidade é preocupante, pois revela que as exportadoras não esperam uma reação das vendas no médio prazo.
Manufaturados x commodities
O dólar fraco atinge em cheio as vendas externas das indústrias de manufaturados. O presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, alertou que, atualmente, 71% das exportações são de commodities. "Isso não acontecia desde a década de 70. Os manufaturados perdem espaço", afirmou Castro.
A presença de manufaturados na pauta exportadora brasileira tem caído desde 2005, quando chegou a representar 55,14%, fato comemorado como um marco para o Brasil, que deixava de ser apenas um exportador de commodities para ingressar no grupo de comércio de produtos semiacabados. Em 2010, porém, os manufaturados voltaram ao patamar de 39,40% das exportações.
Castro defende o dólar na faixa dos R$ 2,20 para melhorar a rentabilidade. "Hoje, as empresas brasileiras continuam a exportar para preservar mercado, e não para ganhar dinheiro", afirmou. É o caso da Latina Eletrodomésticos, que tem exportações em torno de R$ 4 milhões a R$ 5 milhões para Portugal, Espanha, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina. As vendas externas representam de 4% a 5% do faturamento, segundo o presidente da empresa, Valdemir Gomes Dantas.
"Mantemos as exportações neste porcentual para nos proteger de oscilações cambiais muito grandes", afirmou Dantas. No entanto, o nível atual do câmbio acendeu um sinal de alerta para a empresa. "Fiz meu planejamento no início do ano com dólar a R$ 1,70, e estamos a R$ 1,57. Estou chegando no meu limite. As minhas margens já foram para o brejo", afirmou.
A situação é ainda mais grave na indústria de maquinário pesado. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Fernando Bueno, a indústria de máquinas e equipamentos, que já foi superavitária em comércio exterior, deve amargar um déficit próximo a US$ 20 bilhões este ano, em torno de 33,3% acima do déficit de 2010. "Costumávamos exportar em torno de 40% da produção. Hoje, exportamos 20%", afirmou.
Para o presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo Mello Lopes, o dólar deve continuar em baixa, tendo em vista o empenho do governo no combate à inflação, que é favorecido pela valorização do real. Segundo ele, o setor siderúrgico vive uma situação inusitada: não pode deixar de exportar, devido ao alto nível de capacidade, sempre acima de 80%, e não tem demanda doméstica que sirva a um possível deslocamento de exportações. "Se desligamos um alto-forno, demoramos três meses para religar. Temos que exportar, mesmo em um mercado internacional com excedente de aço e câmbio mais fraco", afirmou.
Agência Estado | 08/07/2011 16:46
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