Roberto Nicolsky é diretor da Sociedade Brasileira
O desenvolvimento tecnológico de uma economia precisa ser avaliado por um indicador que expresse efetivamente a tendência de sua evolução na direção da sua plena autonomia competitiva. Nos países desenvolvidos, caracterizados pela geração de tecnologia, pode ser suficiente a simples contagem de patentes outorgadas no maior mercado, isto é, pelo USPTO, o escritório de propriedade industrial dos Estados Unidos. Em países emergentes ou em desenvolvimento, porém, esse tipo de indicador é insuficiente para identificar se a economia está ou não se tornando competitiva no cenário mundial. Neste quadro, a estrutura do comércio exterior é mais indicativa do grau de competitividade da economia e a tendência evolutiva de seu desempenho nas relações com outras economias. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) propõe uma classificação das relações de troca baseadas na intensidade de tecnologia contida nos produtos. Esse critério foi estabelecido com base na distinção de níveis de intensidade tecnológica. -
Assim, a alta intensidade tecnológica - aviões, medicamentos, informática, telecomunicação e equipamentos médicos - corresponde ao segmento de produtos com elevada agregação de valor pela incorporação de inovações tecnológicas. A média-alta intensidade tecnológica - indústrias química, de equipamentos mecânicos e elétricos e de veículos rodoviários e ferroviários - é fornecedora de outras indústrias e, embora tenha valor agregado expressivo, tem conteúdo inferior. A média-baixa intensidade tecnológica reúne produtos bem mais simples, com pouca elaboração, e a baixa intensidade designa produtos em que a inovação tecnológica incorporada tem pouca relevância. Finalmente temos os produtos não industriais que se referem ao que é obtido da natureza e comercializado in natura, ou seja, de origem vegetal ou animal e que são consumidos em seu estado natural. Dessa forma, o perfil do balanço do comércio exterior torna-se um indicador expressivo da competência tecnológica relativa de uma economia em incorporar valor a seus produtos e processos através da geração de inovações, medindo, assim, a sua competitividade. Se for positivo nos itens de alta ou média-alta intensidade tecnológica indicará competitividade. Se for negativa nesses mesmos segmentos, mostrará a sua debilidade em agregar inovações e competir. Com base nesses conceitos, vê-se que o balanço do comércio exterior mede o desempenho inovativo e tecnológico da economia, embora não seja, como todos os demais, um indicador único e absoluto.
A nossa economia tem tido um crescimento da produção industrial acompanhando parcialmente a expansão quase explosiva do mercado interno. Por outro lado, vemos que o nosso indicador tecnológico do comércio exterior mostra déficit crescente nos segmentos de alta e média-alta intensidade, principalmente em relação a países emergentes, especialmente a China, do que se conclui que esses países estão aproveitando muito mais a expansão do nosso PIB e do mercado interno. Considerando o primeiro trimestre de cada ano de 2006 a 2011, no segmento de média-alta intensidade tecnológica, que abrange produtos estratégicos para o desenvolvimento, a exportação brasileira registrou aumento de 25%, alcançando US$ 9,1 bilhões, o que poderia indicar um bom desempenho. Entretanto, a importação explodiu, apresentando crescimento de 173%.
O resultado do balanço tornou-se deficitário em US$ 9,9 bilhões no último trimestre. Nos produtos de alta intensidade tecnológica as exportações do primeiro trimestre de 2011 foram US$ 1,9 bilhão, com uma queda de 11%, enquanto as importações cresceram 86%, gerando um déficit de US$ 6,9 bilhões. De que maneira o comércio exterior brasileiro compensou esses déficits? Exportando produtos industrializados de baixo conteúdo tecnológico e, principalmente, colocando no mercado internacional um volume maciço de produtos não industriais, as commodities. Isso tem sido possível porque essas commodities - produtos agro-pecuários e minerais - têm tido uma constante elevação de preços. O perigo, porém, para a nossa economia, é que essas commodities têm preços formados no mercado internacional, fora do nosso controle e não vão subir sempre. Portanto, é urgente que haja uma ação governamental consistente e ousada para mudar a tendência em curso para que se confira à indústria brasileira de manufaturas a competitividade que lhe faz falta mediante a continuada agregação de inovações tecnológicas. É essencial que o Estado compartilhe esforços e riscos.
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