segunda-feira, 11 de julho de 2011

Secretário promete nova política industrial em duas semanas

Integrante do MDIC diz que pacote está nos detalhes finais

Patrícia Comunello

MARCO QUINTANA/JC
 
Teixeira descartou que conjunto de ações trabalhará com outro cenário de câmbioDepois de inúmeros adiamentos, o novo prazo para o anúncio da política industrial do governo Dilma se firma como duas semanas ou no máximo começo de agosto. A garantia foi dada pelo secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o economista gaúcho Alessandro Teixeira, que definiu o estágio do pacote como nos "detalhes finais". As metas e quais serão as medidas mais contundentes para buscar maior competitividade do setor dependerão da palavra final da presidente da República, Dilma Rousseff. Inovação e aumento no nível do investimento em relação ao PIB serão alvos principais da política.

"Esta semana a presidente define o que falta", projeta o gaúcho, que condicionou o tom da desoneração de impostos à situação fiscal da União e em relação às demais contas de transações. O corte de tributos será um dos recursos para ajustar as desvantagens das empresas locais frente aos custos mais baixos dos concorrentes estrangeiros, seja no mercado interno ou no externo. "Será uma parte importante da política, mas o espaço fiscal que poderemos mexer dependerá do governo. Todo tipo de desoneração dá mais competitividade", alicerçou Teixeira.

O numero 2 do ministério descartou ainda que o conjunto de ações trabalhará com outro cenário de câmbio, cujo patamar atual é apontado como maior vilão hoje pelos segmentos industriais para a perda de competitividade. Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e mesmo a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), que ganha novo presidente nesta semana, o empresário Heitor Muller, intensificam as queixas da corrosão para os fabricantes nacionais diante da maior valorização do Real e maior ingresso de importados. "Até que ponto podemos dizer que o câmbio é um malefício? Para as exportações, a cotação restringe, mas há uma parte da indústria que importa componentes e os consumidores que ganham ao ter produtos mais baratos", contrapõe.

Quando dirigia a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil), o agora secretário executivo considerava que a moeda americana dificilmente avançaria acima de R$ 2,00. A cotação mais recente é de R$ 1,58 a R$ 1,61. Restaria às empresas se adaptar. Mesmo assim, Teixeira assegurou que o pacote de incentivo fortalecerá a indústria nacional. O pilar central será a inovação, sem dar prioridade a setores e seguindo
o Plano Plurianual (PPA), além da melhoria da infraestrutura, considerada um dos maiores adversários no aumento dos custos, e formação de mão de obra. Sem revelar metas gerais, Teixeira confirmou que o plano atual será balizador. "Não posso dizer se será igual, pois não batemos o martelo". Dados do próprio governo indicam que menos de 2% das empresas investem em inovação. No comércio mundial, o País responde por 1,6% das trocas. Os investimentos têm se mantido abaixo de 20% do Produto Interno Bruto (PIB). A intenção é elevar esta participação.

Instrumentos como o Finame-PSI, operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) foi indicado como exemplo para apoiar industriais. O secretário executivo, que teve encontro na sexta-feira passada com a direção da área de Desenvolvimento e Investimento do governo estadual, evitou comentar a injeção de R$ 4 bilhões do BndesPar que asseguraria participação acionária e caixa na fusão do Carrefour e Pão de Açúcar no Brasil. "Isso é assunto da área operacional do banco", desconversou o gaúcho, que é conselheiro da instituição. A operação é alvo de pesadas criticas por se tratar de um negócio eminentemente privado, com efeito na concentração do setor (ao criar o maior grupo de varejo do País) e que seria viabilizado com recursos mais baratos oriundos do Tesouro Nacional e Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), dois dos maiores caixas da instituição.

Rio Grande do Sul reforça disputa por fábrica de tratores coreana
O Rio Grande do Sul terá até setembro para provar à fabricante coreana LS Mtron que tem mais atributos que outros estados para receber a primeira unidade de tratores do grupo no Brasil. Este é o prazo que os representantes da coreana teriam dado à equipe da área de atração de novos empreendimentos do governo estadual como limite para fazer a escolha. Em visita à Região Metropolitana na sexta-feira, executivos da companhia, oriunda do grupo LG e que fatura anualmente US$ 20 bilhões entre operações nos ramos de máquinas, construção civil e financeiro, conheceram universidades, conferiram áreas e mantiveram rodadas de troca de informações com técnicos das áreas de negócios, Fazenda e Meio Ambiente e com municípios como Novo Hamburgo, São Leopoldo, Santa Maria, Rio Grande e Pelotas.

Todas as cidades estão na disputa para atrair a sede da fábrica. As três últimas integraram a missão estadual à CorEia do Sul, ocorrida entre final de maio e começo de junho. Na viagem, foram feitos os primeiros contatos com a LS Mtron. O titular da Secretaria Estadual de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI), Mauro Knijnik, estimou em 60% as chances de o Rio Grande do Sul vencer a disputa pelo empreendimento, cujo valor não teria sido revelado pelos interlocutores da fabricante, que preferiram não falar com a Imprensa. Segundo Knijnik, as chances traduzem principalmente a existência de uma cadeia de máquinas e equipamentos agrícolas, que responde por 60% da produção brasileira. Na área de tratores, dois dos maiores produtores estão no Estado.

O secretário citou ainda a alíquota zero de ICMS para vendas dentro do território gaúcho como um diferencial,
que também existiria no Paraná. O titular da SDPI citou que os coreanos não abrem detalhes do perfil de negócio e ressaltou que até agora a negociação só envolvia São Paulo. "Eles disseram que até travarem o encontro com o Estado só consideravam a opção paulista", reproduziu Knijnik, apostando na boa impressão causada até agora aos representantes da LS Mtron. A empresa possui fábricas em outros paises e tem 11 mil empregados na Coreia e outros 7 mil no exterior.

O diretor-presidente do Badesul, Marcelo Lopes, ressaltou que o projeto deve buscar maior fornecimento de peças locais, para atingir maior índice de nacionalização. Este quesito é essencial na hora da comercialização das máquinas. "Para acessar linhas do Bndes, como o Finame, com juros mais baixos, o produto deve ter 60% de conteúdo nacional", dimensionou Lopes. Para a unidade, que teria um tamanho menor na largada com ampliações gradativas, a área física teria de ter pelo menos 40 mil metros quadrados, ou quatro hectares. O diretor-presidente do banco de fomento informou que a cúpula do grupo virá ao Estado em agosto. Necessidade de mão de obra e apoio na área de tecnologia foi garantida aos executivos, que mostram mais dificuldade de entender o funcionamento da malha tributária brasileira. Na Coreia, citou Lopes, são apenas três impostos.

A comitiva de Santa Maria se municiou de dados estatísticos e perfil da sua base industrial, que tem fabricantes de implementos para o setor agrícola, para se reuniu com a empresa. Material impresso em inglês também foi confeccionado para subsidiar os empreendedores. O superintendente da Agência de Desenvolvimento do município, Diogo de Gregori, aposta nas chances da região, que tem tradição em serviços em educação e principalmente na área de técnicos para a indústria metalmecânica. "Temos uma posição central e novos investimentos de fabricantes de máquinas e peças. Temos todas as condições de receber a LS Mtron", afirmou Gregori. Para o encontro, no final da tarde de sexta-feira, na sede da secretaria estadual, também vieram representantes do Sindilojas e da área de tecnologia.

Jornal do Commercio/RS

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