Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
A enxurrada de itens importados no País, favorecida pelo real valorizado frente ao dólar, mais uma vez impactou negativamente as vendas das micro e pequenas empresas do Grande ABC. De maio para junho, o faturamento dessas companhias registrou queda de 1% e, no semestre, o recuo foi de 1,2%, se comparado ao mesmo período do ano passado. Os dados integram a pesquisa indicadores Sebrae-SP de conjuntura, junto a 2.700 MPEs em todo o Estado de São Paulo, amostra que representa 1,3 milhão de empresas.
O resultado, na avaliação do diretor-superintendente do Sebrae-SP, Bruno Caetano, é reflexo da restrição na oferta de crédito e da elevação da taxa básica de juros, hoje em 12,50% ao ano - política adotada pelo governo federal na tentativa de reduzir a inflação. "Além disso, a concorrência com produtos importados dificulta as vendas das micro e pequenas empresas."
A forte presença da indústria no Grande ABC influencia diretamente as receitas dos negócios. O setor faturou 7% menos em relação à maio e, no semestre, a receita foi 1,1% menor frente ao mesmo período de 2010. Embora o levantamento não possua recorte de segmento por região, nem identifique quais subsetores se destacaram, a alta concentração industrial por aqui permite a comparação.
Caetano afirma que a retração das companhias da região, por ser pequena, sinaliza estabilidade. "Porém, o sinal amarelo continua aceso. É preciso que as empresas se atentem e invistam em inovação a fim de melhorar seu produto e ganhar espaço no mercado."
Em relação a junho do ano passado, o faturamento das MPEs do Grande ABC subiu 5%. O resultado, apesar de positivo, representa um "crescimento artificial", diz o executivo. "A base de comparação com o mesmo mês de 2010 é fraca. Isso porque, até março, com o fim do IPI reduzido (para linha branca e veículos), as compras foram antecipadas. Os meses seguintes (abril, maio e junho), portanto, foram marcados por poucas vendas."
O comportamento das MPEs do Estado de São Paulo, na média, foi mais positivo que o da região. Ante maio, o faturamento recuou 1,7%. Porém, na comparação semestral houve alta de 4,7% e, na anual, crescimento de 8,2%.
PERSPECTIVA - Nesta semana foi lançado pelo governo federal o plano de incentivo industrial batizado de Brasil Maior. Uma das medidas é a concessão da desoneração do IPI para as montadoras até 2016, com a contrapartida de aumentarem o conteúdo nacional (as compras de peças locais, em detrimento das tantas importadas) e as contratações, além de ampliarem os investimentos na produção e fabricar veículos com tecnologia inovadora.
O estímulo inclui fabricantes de carros de passeio, comerciais leves, caminhões, tratores e ônibus, mas não se aplica a empresas de autopeças. Porém, pode amenizar o desequilíbrio gerado pela enxurrada de importação, estimulando toda a cadeia automotiva.
Questionado sobre o possível impacto, Caetano avalia que a medida é importante e que se espera que ela melhore o cenário das MPEs. No entanto, ele revela um dado: menos de 20% do faturamento das micro e pequenas provém de médias e grandes companhias. Isso mostra que elas estão desconectadas de onde existe um intenso giro de capital. Com o incentivo, porém, pode ser que essa realidade comece a mudar.
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