Para reforçar a confiança do empresariado, o Ministério da Fazenda apresentou no início do mês o estudo trimestral Economia Brasileira em Perspectiva, com números parciais de 2011 e projeções otimistas de crescimento para 2012. Cético quanto a uma retomada já no primeiro semestre, o setor empresarial se mostra disposto a cumprir sua parte, mas espera do governo medidas que estimulem a produção e favoreçam a competitividade diante dos importados.
De acordo com o estudo do ministério, os investimentos no Brasil até outubro eram da ordem de US$ 282,2 bilhões, montante superior ao registrado em todo o ano de 2010, cuja marca foi de US$ 268,8 bilhões.
O trabalho aponta projeções de crescimento para alguns setores. No caso dos eletroeletrônicos, a previsão de investimentos de 2011 a 2014 é de R$ 29 milhões, volume improvável, pelo menos no caso de indústrias já instaladas, diz Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
"Em 2011, o investimento em capacidade produtiva foi de R$ 3 bilhões, uma queda em relação a 2010, quando atingimos R$ 3,5 bilhões", afirma. Para Barbato, a projeção do governo só se confirmará caso haja entrada de indústrias de semicondutores, setor que depende do mercado internacional, com importações anuais em torno de US$ 40 bilhões.
Hoje, segundo ele, há risco de aumento da capacidade ociosa por causa da entrada de equipamentos estrangeiros, vindos em sua maioria da China, principalmente bens de capital para a área de geração e transmissão de energia.
Isso ocorre pelo fato de serem máquinas com padrão de qualidade superior, justificada pela presença de tecnologia externa em solo chinês.
"Defendemos um aumento de tributação no imposto de importação, pelas regras da Organização Mundial do Comércio. Do contrário, há risco de desindustrialização do setor."A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) já mostra apreensão com o próximo semestre. "Devemos fechar o ano com faturamento 5% acima do de 2010, mas o portfólio de pedidos do setor se manteve com os registrados no primeiro semestre", diz Mário Bernardini, assessor da Abimaq.
Até a crise de 2008, diz, os aportes anuais eram de cerca de R$ 8 bilhões e caíram para R$ 5 bilhões nos anos seguintes. "Os investimentos previstos para 2012 dependem da promessa de realização de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)."Segundo Bernardini, um dos inibidores de investimentos do setor é a taxa de câmbio - que no entender da Abimaq, deveria ficar entre R$ 2,30 e R$ 2,40.
Outro entrave diz respeito à "guerra dos portos" entre os Estados, que concedem isenções de ICMS a produtos estrangeiros que chegam por via portuária. A regulamentação está prevista na Resolução 72, a ser discutida pelo Legislativo em 2012. A proposta do texto é que o ICMS deixe de ser cobrado na origem e passe a ser cobrado no destino da mercadoria.Assim, o Estado de origem ficaria com 4% do imposto.
Para Paulo Francini, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a medida é negativa para a indústria nacional. "Pelas regras do comércio internacional, quando há momentos de depressão em seus mercados internos, as indústrias buscam deslocar seus excedentes de produção para novos mercados e aí são necessários mecanismos de proteção para as indústrias locais."
Para o analista Mauricio Endo, da área de infraestrutura e governo da KPMG, os fundamentos da economia brasileira tornam o país um cenário mais amistoso para os investimentos em relação aos demais países emergentes que compõem o BRIC (Rússia, Índia e China). "Nosso ambiente regulatório se assemelha mais ao de países desenvolvidos", afirma.
No setor de telecomunicações, a expectativa do governo é de investimentos de R$ 72 bilhões entre 2011 e 2014. Para 2012, estão previstos o leilão de lançamento da rede móvel de 4ª Geração (4G) - que deve mobilizar as operadoras do Brasil - e nova regulamentação para o mercado de TV por assinatura, que permitirá a entrada de empresas estrangeiras na oferta de serviços por meio de cabo ótico.
Para Eduardo Levy, do SindiTelebrasil, o marco regulatório brasileiro propicia segurança ao investidor estrangeiro. "Mas ainda há obstáculos nas legislações de Estados e municípios para obras de infraestrutura. No Rio Grande do Sul, por exemplo, instalar uma torre de celular chega a demorar seis meses".
Para Fabio Kanczuk, professor de macroeconomia da pós-graduação da FEA-USP, a burocracia também dificulta os investimentos no Brasil. "O empresário busca taxas de retorno compatíveis com o investimento. O país precisa promover uma reforma tributária e investir mais na qualificação profissional".
Braulio Borges, analista da LCA, vincula investimentos privados aos que serão promovidos pelo governo federal em infraestrutura, principalmente em construção civil, com obras para a Copa e a Olimpíada, e as previstas no programa Minha Casa Minha Vida. Mas ele teme que o governo aplique medidas protecionistas, como a do IPI para veículos importados. "Protecionismo gera um mundo mais fechado para os negócios".
O setor sucroalcooleiro vive momento de impasse. Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), não há investimentos previstos para construção de novas grandes usinas em 2012.Já o setor automotivo deve se manter em alta. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), os investimentos previstos de 2011 a 2015 são da ordem de US$ 22 bilhões.
Toyota, Nissan, GM, Fiat, Renault, Peugeot-Citroën e BMW anunciaram investimentos na construção e/ou ampliação de unidades no Brasil.
Guilherme Meirelles
Valor Econômico 21/12/2011
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