terça-feira, 19 de julho de 2011

Bier teme ida de fábricas para a Argentina

comércio exterior Notícia da edição impressa de 19/07/2011

Produtos brasileiros continuam retidos na fronteira Brasil-Argentina, ultrapassando o máximo de 60 dias

ANDRÉ NETTO/JC
Bier destaca migração para o país vizinho
Bier destaca migração para o país vizinho

Apesar das negociações entre o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e da ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, produtos brasileiros continuam retidos na fronteira dos países vizinhos e no porto de Rio Grande, ultrapassando o máximo de 60 dias recomendados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para liberações dos produtos. Além disso, a situação impõe o desrespeito a acordo firmado entre os dois países com o propósito de acatar o prazo estabelecido pela OMC, ocasionando importantes perdas, principalmente, ao setor calçadista e de máquinas.

O coordenador do Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Cezar Müller, estima que mais de R$ 200 milhões em cargas enviadas pelo Rio Grande do Sul estejam barradas, em breve levantamento feito pela entidade. De acordo com Müller, o Brasil conduziu bem a situação até agora, optando pelo diálogo e não adotando medidas precipitadas. O executivo aponta que com o agravamento das restrições observado nas últimas semanas, o País deve ser mais enérgico com os vizinhos. "É o momento de nós buscarmos uma forma mais dura para o governo agir em relação às restrições da Argentina", frisa. Müller ressalta que os exportadores gaúchos seguem com bastante dificuldade, além de afirmar que a Argentina busca acordos comerciais diretos com os empresários brasileiros. "A Argentina quer criar um fluxo de comércio positivo, então atua fazendo acordos para que o exportador também importe matérias-primas ou que comece a produzir no país", aponta. Com isso, o dirigente alega que o governo argentino age sempre baseado em ameaças, prejudicando severamente a indústria local. "Por isso defendemos que chegou o momento de tomarmos uma posição mais firme, do contrário teremos uma situação muito desagradável daqui para frente", sentencia.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier, compartilha a opinião. Ele destaca que muitas companhias estão inclinadas a se mudarem para a Argentina diante das atuais dificuldades. O empresário relata que durante a posse na nova diretoria da Fiergs, na quinta-feira passada, falou diretamente à presidente Dilma Rousseff e ao secretário-executivo do Mdic, Alessandro Teixeira sobre a barreira comercial. "O secretário está fazendo um esforço muito grande para que as indústrias não saiam daqui, mas disse que os argentinos forçaram o jogo e que está muito difícil a situação", diz. Bier lembra que 75% das máquinas agrícolas brasileiras são produzidas no Rio Grande do Sul, e que uma possível migração de fábricas impactaria de forma drástica o Estado.

Os exportadores de calçados também estão amargando as consequências da demora argentina em liberar as mercadorias na aduana. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) está realizando, semanalmente, estudo sobre o volume de pares estacionados na fronteira. Segundo a assessoria de imprensa da Abicalçados, na sexta-feira passada, somente entre produtos das empresas associadas à entidade havia 727 mil pares, sendo 631,6 mil pares com atrasos superiores a 60 dias para entrar na Argentina.

Jornal do Comércio/POA/RS

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