O cenário de demanda elevada por equipamentos de obras no Brasil, real valorizado e necessidade de países exportadores desses itens expandirem seus consumidores, após a piora dos mercados americanos e espanhol, têm estimulado empresas de construção a buscar a importação direta como alternativa de abastecimento. A Living Construtora, braço de baixa renda da Cyrela Brazil Realty, avalia a possibilidade de importar da China, diretamente, mini-gruas, guindastes e empilhadeiras. A Rossi Residencial estima que suas compras de maquinário feitas diretamente do exterior somem R$ 16 milhões este ano, o dobro de 2010. Já o total de equipamentos importados, da mesma forma, pela Camilotti Incorporação e Construção, desde 2010 até o fim de 2011, deve ficar próximo de 50 unidades.
Em geral, o setor aluga a totalidade ou a maior parcela dos equipamentos de obra, mas algumas empresas optam por comprar itens que possam faltar no mercado de locação devido à demanda elevada ou aqueles com especificações não disponíveis. O câmbio torna os preços dos equipamentos importados mais atraentes que há alguns anos e, conforme os volumes demandados, a compra direta desses itens pode ser uma opção ainda mais em conta.
Em outubro, o diretor Corporativo de Produção da Living, Marcelo Melo, irá à China para fazer prospecção de tecnologia de equipamentos e poderá fechar alguma compra. Por enquanto, toda a aquisição feita pela Living de maquinário fabricado no exterior é feita no Brasil, por meio de importadores. Do total de equipamentos que a Living possui, os importados respondem por 15%, fatia que pode crescer para 20%.
A parcela própria também representa 15% dos equipamentos utilizados pela Living. "Compramos equipamentos quando percebemos que existe alguma ameaça de fornecimento no mercado", diz o executivo. Podem faltar, por exemplo, empilhadeiras, segundo ele. É justamente um dos itens que a Living estuda se vale à pena comprar, diretamente, da China. A empresa avalia ainda importação direta de andaimes da Espanha e de trazer, dos Estados Unidos, a tecnologia "steel frame" para projetos-piloto de casas, com a vinda de profissionais do país para intercâmbio de conhecimento.
A possibilidade de importação direta de equipamentos e de usar maquinário e tecnologias construtivas que possibilitem reduzir a mão de obra necessária fazem parte da estratégia da Living de busca de formas para reduzir custos e melhorar suas margens. A padronização de projetos e processos e a maior participação da construção própria no total, atualmente em 70%, também integram essa estratégia. A expectativa da Living é que essa fatia alcance 90% em meados de 2012.
A Rossi, que recorria ao mercado de aluguel para todos os equipamentos que utilizava, deu início à compra de parte de suas necessidades em 2009. "A demanda do mercado por equipamentos cresceu, e os preços de locação aumentaram demais", diz o diretor de Engenharia da Rossi, Renato Diniz. Em alguns mercados, chega a faltar equipamentos de fundação, o que exige que o planejamento dos pedidos seja feito com mais antecedência.
A importação direta de equipamentos pela Rossi começou no ano passado. Aproveitando o real valorizado e o interesse de fornecedores internacionais de encontrar novos clientes, a Rossi já comprou, diretamente, equipamentos da China, Áustria, Irlanda, Inglaterra, Alemanha e dos Estados Unidos. "Alguns equipamentos não têm similar nacional." A Rossi encomendou, por exemplo, onze gruas da Irlanda para 2011 e negociou com o fornecedor alterações no maquinário para ganho de produtividade nas suas obras.
A Camilotti, que atende, com exclusividade, à incorporadora Helbor nas regiões de Joinville e Itajaí, em Santa Catarina, atuando como co-incorporadora e construtora, já importou, diretamente, elevadores de obras, máquinas de corte e dobra e furadeiras para concreto. Segundo o diretor da empresa, Marcos Camilotti, o valor pago por elevadores de obra importados, com qualidade superior aos produzidos no mercado nacional, correspondeu ao preço de 60% ou 70% desses itens. Nas importações diretas estão também furadeiras de concreto e máquinas de corte e dobras de aço. Mas a preferência é alugar equipamentos ou comprar produtos nacionais. "Importamos quando há diferença de qualidade ou preço", diz Camilotti, ressaltando que a estratégia só compensa para volumes maiores.
Já para a PDG Realty, maior empresa do setor, a importação direta de equipamentos não faz parte de suas atividades. A empresa possui 20 gruas produzidas no exterior, mas adquiridas via importador. "Há o risco de atraso e de a mercadoria chegar ao porto e não conseguirmos retirar", afirma o diretor vice-presidente e de Relações com Investidores da PDG, Michel Wurman.
O nível de manutenção de equipamentos importados "bem mais difícil que o dos nacionais" é outra dificuldade apontada por Wurman. Mas quem faz ou tem interesse na importação direta diz não considerar a manutenção um problema. Segundo Diniz, da Rossi, os contratos fechados com os fornecedores asseguram, além da compra, a manutenção do maquinário por meio de representantes no Brasil e mecânicos treinados. A Living também não vê, com preocupação, a necessidade de substituir ou trocar peças de equipamentos comprados no exterior sem intermediários. "As marcas que vamos prospectar são as mesmas que os importadores trazem", diz Melo.
Chiara Quentão
Valor Econômico
22/09/2011
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